Na outra ponta da lista, as licenciaturas da área de exatas - menos de três candidatos por vaga, na maioria das universidades brasileiras - mostram que poucos querem dedicar sua vida profissional ao magistério, sobretudo nas áreas de Matemática, Física e Química, disciplinas marcadas pelo preconceito de serem as mais difíceis para ensinar e para aprender.
No Brasil, os concluintes dos cursos de licenciatura podem atuar como professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio nas redes pública e particular. Além disso, a continuidade dos estudos de pós-graduação em nível de especialização, mestrado e doutorado, permite ingresso na área de pesquisas educacionais e na docência do ensino superior, em universidades públicas e privadas.
Mesmo com mercado de trabalho tão amplo há na rede pública de ensino uma carência de quase 300 mil professores, em torno de 15% do total das salas de aula, segundo dados da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Na área de exatas, esse déficit é ainda maior: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) indica que, nos últimos 15 anos, as universidades formaram 110 mil professores de Matemática. Desse total, apenas 43 mil estão em sala de aula, ou seja, 39,09% dos graduados.
Para especialistas, os números revelam a queda do interesse pelo magistério e mostram que é preciso um grande investimento nessa área. Caso contrário, o Brasil continuará tendo péssimos índices na educação básica, que é diretamente afetada pela falta de professores qualificados. O resultado da pouca procura pela licenciatura é que docentes dão aulas para as quais não estão preparados.
Para a Cristina Luiza Garbuio, supervisora Pedagógica de Matemática do Instituto Qualidade no Ensino (IQE), as razões para que esse contingente de licenciados não esteja no magistério vão desde a desvalorização da carreira até a sensação de que a universidade não lhes subsidia para desenvolver, junto aos alunos, os conteúdos de Matemática correspondentes a cada ano de escolaridade. “Para suprir essa deficiência, as redes acabam contratando professores não habilitados na área em que deverão atuar”, comentou.
De acordo com o movimento "Todos pela Educação", cerca de 44% dos professores de Química, no Ensino Médio, não têm formação em Química e nem são formados na área de exatas, como Física ou Matemática. “Assim, a cada ano letivo, mais e mais alunos são prejudicados com a formação deficiente nas ciências exatas e deixam de escolher esse campo de atuação, fundamental para a formação de outros profissionais. Se não há professores de Matemática e Física, quem formará os futuros engenheiros? Se não há professores de Química, quem formará os futuros médicos e farmacêuticos? Se não há professores, de maneira geral, quem formará os futuros professores e os demais profissionais?”, questiona a especialista.
Cristina Garbuio lembra que hoje existem programas de formação continuada em serviço de altíssima qualidade, contribuindo significativamente para a valorização dos professores que já estão no mercado de trabalho e que necessitam de estudo constante quanto ao que há de mais atual nas pesquisas relativas ao ensino e aprendizagem. Entretanto, a supervisora do IQE lembra que sua abrangência está limitada a políticas de investimento pontuais.
“No aspecto de desenvolvimento e crescimento econômico, empresas dos mais variados setores já perceberam que, no Brasil, ocorre uma situação oposta a do desemprego em outros países: há vagas, no entanto, temos um número decrescente de candidatos habilitados a preenchê-las”, afirma. O mercado de trabalho vem sentindo, há algum tempo, de acordo com ela, esse verdadeiro apagão de profissionais qualificados, iniciado por outro, nem sempre notado pelos poderes públicos: o da formação básica de qualidade para todos os cidadãos.
Fonte: cidadeverde.
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