A ilustração de Emile Bayard mostra Cosette, uma das personagens do livro
Um homem condenado a anos de prisão por ter roubado um pão pode não soar estranho no Brasil. Mas nenhum caso até hoje rendeu uma história tão extraordinária como a de Jean Valjean, o protagonista maltrapilho de Os Miseráveis, de Victor Hugo (1802-1885), um clássico da literatura francesa que já inspirou filmes, seriados, musicais e até uma novela brasileira.
Historiadores dizem que o autor de O Corcunda de Notre Dame (1831) e Os Trabalhadores do Mar (1866) escreveu mais de 1 milhão de versos, além de engajar-se nas lutas políticas e ideológicas do século 19. Nas mais de mil páginas de Os Miseráveis, publicado em 1862, ele radiografa a miséria da França revolucionária, que embrutecia milhares de pessoas nos arredores de Paris, transformando-as em animais na luta por comida. Jean Valjean é um deles, condenado por um tribunal a passar cinco anos nas galés por causa de um pedaço de pão roubado quando não mais suportava ver os irmãos passando fome.
A pena vai se esticando devido a tentativas de fuga, e ele acaba amargando 19 anos atrás das grades. Só sai após cumprir a pena, mas sob condicional: se não se apresentasse regularmente à polícia, seria preso para sempre. Condição que ele ignora, já descontente com o "passaporte amarelo" que o identifica como ex-presidiário.
Os Miseráveis são uma história dilacerante em seu realismo incondicional. Até mesmo quando Valjean é ajudado pelo bispo Benvindo, que o acolhe em casa, a brutalidade das ruas aflora e ele acaba roubando a prataria. Pego por soldados com a prataria marcada com o brasão do bispo, espanta-se ao ver que este inventa uma história à polícia para livrá-lo. "Você esqueceu os castiçais", diz o bispo a um miserável desacostumado à bondade.
Após nove anos, sob nova identidade, Valjean prospera como negociante e se torna homem rico e respeitado como prefeito. A bondade demonstrada pelo bispo parece ter amolecido seu coração. Vendo a morte de uma ex-empregada, chega a adotar sua filha, a pequena Cosette.
Um dia Valjean vê um aldeão preso embaixo de uma carroça pesada e, com uma força que parece sobre-humana, a levanta usando as costas, o que permite que o homem seja salvo. Javert, inspetor recém-transferido para a cidade onde Valjean é prefeito - e o responsável pela crueldade com que ele fora tratado na prisão -, reconhece o ex-presidiário por causa de sua força brutal e se torna obcecado por desmascarará-lo.
Mas outro homem é acusado de ser Jean Valjean. No tribunal, o verdadeiro Valjean atesta a inocência do acusado e prova sua identidade, o que fará com que Javert inicie uma caçada para prendê-lo. Assim, ele passa anos e anos fugindo com Cosette fora da França. Só muito depois é que Javert conclui que toda a sua perseguição de décadas não passa de um crime contra um homem comum e suicida-se.
Como Jean Valjean, personagem adorado por gerações de leitores, o próprio Victor Hugo virou paixão nacional, sendo um dos poucos escritores franceses da época a ter sucesso ainda em vida. Tanto que, após sua morte, seu corpo ficou dias exposto sob o Arco do Triunfo, homenageado por quase 1 milhão de pessoas.
Fonte:Educarpracrescer.
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