Luís Roberto, 27 anos, ganhou uma bolsa para estudar medicina em Cuba.
Após sete anos de estudo, ele retornou ao Piauí e atende na cidade de Cocal.
Piauiense estuda Medicina em Cuba e volta para atender população carente (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
Luís Roberto da Silva, 26 anos, nasceu no bairro Dirceu Arcoverde, na Zona Sudeste de Teresina, no Piauí. Aos cincos anos foi morar na favela de Heliópolis, em São Paulo, onde cresceu e enfrentou muitas dificuldades. Chegou a ser assediado pelo tráfico, mas foi através de um programa social que sua vida mudou: ele conquistou uma bolsa para estudar Medicina em Cuba. De volta ao Brasil, ele foi selecionado pelo Programa Mais Médicos para atuar no povoado Videu, Zona Rural de Cocal, na região Norte do Piauí.
“Eu recebi propostas para trabalhar no tráfico. Era criança e via os meninos com sapatos e roupas modernas e desejava tê-las, mas as condições financeiras da minha família não me permitiam. Por várias vezes, eles disseram que eu também poderia ter aqueles objetos se ajudasse na entrega das drogas, mas sempre recusei o convite”, lembrou o jovem.
Trabalho do piauiense tem sido aprovado pela população (Foto: Arquivo Pessoal/ Luís Roberto )
A persistência em crescer de forma digna lhe permitiu uma contemplação com uma bolsa para estudar Medicina em Cuba. Na época, Luís Roberto, mais conhecido como 'Bebeka', tinha 17 anos e era estagiário de educação física em um projeto social de Heliópolis.
Ele conta que a vida no exterior não foi fácil. Emocionado, 'Bebeka' se lembra das diversas vezes que recebeu dinheiro depois que a mãe mobilizou vizinhos e amigos em uma campanha. Além disso, para custear as despesas, a mãe do agora médico, catou latinhas para vender.
“O governo cubano custeou o estudo, alimentação, saúde e transporte. Amigos e familiares se juntaram para pagar outras despesas. Entre elas, passagens para visitá-los durante minhas férias. Sou muito grato a eles”, disse Luís Roberto.
Depois de sete anos, o jovem retornou ao Brasil com diploma de Medicina e um objetivo na cabeça: retribuir a ajuda dos familiares e amigos auxiliando os moradores de Heliópolis. Mas antes da realização deste sonho, Luís Roberto recebeu a missão de atuar no povoado Videu, Zona Rural de Cocal.
“Quando voltei me inscrevi no Programa Mais Médicos e coloquei como opção para trabalhar em Cocal, pois sou piauiense e gostaria de poder ajudar na saúde pública deste estado, mas sonho em também atender em minha comunidade. Não esqueço minhas raízes. Por enquanto vou me dedicar aos meus pacientes piauienses, mas quero voltar para Heliópolis e poder mudar a realidade também daquele povo que me viu crescer”, afirmou.
Chegada de Luís Roberto e outros médicos ao Piauí (Foto: Arquivo Pessoal/ Luís Roberto)
O piauiense chegou a Cocal em julho deste ano e seu trabalho tem sido aprovado pela população carente do município. Em retribuição, o jovem médico envia para mãe, que continua morando na comunidade, parte do salário que recebe no Programa Mais Médicos.
Críticas ao Mais Médicos
O programa Mais Médicos provocou muitos debates desde o início ainda em 2013. Médicos brasileiros levantaram a questão da validade dos diplomas dos cubanos e também alertaram para a falta de estrutura que qualquer profissional de saúde teria que enfrentar ao exercer a medicina nos lugares menos favorecidos dos pais. Para o médico piauiense, a postura dos companheiros de profissão é equivocada.
“Quem conhece a dificuldade para conseguir uma consulta médica sabe o quanto este programa revolucionou a vida das pessoas mais pobres deste país. Infelizmente, uma parte dos médicos brasileiros veem que a relação médico e cliente e não profissional e paciente. Para eles, o dinheiro fala muito mais alto e por isso muitos se recusaram a trabalhar numa região paupérrima. Fico feliz quando vejo a satisfação dos meu pacientes ao sair do consultório”, mencionou Luís Roberto.
Fonte: G1.globo.com
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