segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A história de Pedro Macaquinho, por Cinéas Santos

   

 Constatei, com uma pontinha de alívio, que a figura mais “notável” de Campo Formoso, que
nem existe mais, não sou eu. Trata-se de um certo Pedro José de Sousa que, por suas
reinações, ganhou a adequada alcunha de Pedro Macaquinho. Menino ainda, Pedro se deu conta
de que não tinha a menor vocação para puxar cobra para os pés, preso ao rabo de uma enxada.
Num descuido da família, azulou no mundo e foi cumprir sua sina. Analfabeto, sem maior
qualificação, descobriu que o próprio corpo poderia ser um excelente instrumento. Simples:
punha a mão esquerda na cova da axila direita e, movimentando o braço, marcava  o  ritmo do
xote  “O Cheiro de Carolina”, sucesso de Luiz Gonzaga. Foi nessa época que o agraciaram com
o rótulo Macaquinho.
Excelente ritmista, tornou-se zabumbeiro do Mané Vicente, que ganhava a vida judiando de
uma pé-de-bode ranheta. Sempre  que o sanfoneiro parava para entornar uma talagada de cana,
Macaquinho abarcava a sanfoninha e mandava ver. Acabou aprendendo o mínimo; o mais correu
por conta de sua intuição. Tornou-se presença obrigatória em feiras, quermesses, leilões,
desobrigas, circos e funções. Sentou praça  no Canto do Buriti e se fez  showman: canta,
dança, improvisa e conta piadas. O público o adora. Mas sua carreira artística tem sido
marcada por um problema crônico: só querem pagar ao Macaquinho com cachaça. Dinheiro, que é
bom, nada. Como qualquer macaco que se preze, entre uma reinação e outra, o Macaquinho
fazia um filho. Família crescendo, dinheiro curto, as coisas se complicaram. Pequeno ainda,
os macaquinhos do Macaquinho passaram a ajudá-lo: tornaram-se todos sanfoneiros e
ritmistas. Nascia o conjunto “Pedro e seus Macaquinhos”. Um dos garotos, o Walmir, é um
sanfoneiro de grandes recursos técnicos.
A parceria com os meninos rendeu alguns frutos, mas a grana continua curta, e o tempo
começa a maltratar o nosso bravo macaco. De repente, aquele novelo de encrencas, que atende
pelo nome de próstata, começou a incomodá-lo. Pedro teve de diminuir o ritmo de trabalho,
fazer tratamento, gastar o que não tinha. A magra aposentadoria que recebe não lhe garante
a sobrevivência com um mínimo de dignidade. Foi aí que pintou a ideia de lançar um CD
artesanal, mas realizado com cuidado e capricho. O CD traz o instigante título de The best
of Pedro Macaquinho, com um punhado de canções, entre elas as clássicas “Delita” e “De
madrugada no calor do frio”, uma versão light, já que a original , down, é imprópria para
menores de 78 anos de idade. Sucesso absoluto: o CD vende mais que farinha nas feiras do
Ceará. Sucesso e encrenca: segundo fui informado pelo sanfoneiro, pelo menos duas lojas de
discos de Canto do Buriti clonaram o CD e passaram a vendê-lo sem autorização do
Macaquinho, ou seja, furtam-lhe a única coisa que tem para sobreviver. Sem ter a quem
recorrer, Pedro veio me pedir ajuda.
Denunciei o fato no programa Feito em Casa e o faço agora nas páginas de O Dia. Se a
pirataria continuar, irei ao Canto do Buriti, denunciar os criminosos ao promotor da
cidade. Não tenho poderes para ir além. De qualquer forma, tenho o dever de tentar ajudar
aquele humilde cidadão que, com sua arte feita de pura intuição, destronou-me do incômodo
posto de única “celebridade” de Campo Formoso.
Cineas Santos

Fonte: Oficinadapalavra

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