O modo como as escolas brasileiras ensinam as crianças a ler e a escrever está ultrapassado. É o que aponta a Associação Brasileira de Ciências em um estudo que durou cerca de cinco anos. As metodologias utilizadas no Brasil, segundo o levantamento, tiveram a ineficácia comprovada por estudos internacionais que serviram de base para mudanças nas políticas de alfabetização em vários países. Para os especialistas, os métodos fônicos — que associam diretamente grafemas (letras) e fonemas (sons) — são comprovadamente os mais eficazes na iniciação dos pequenos no mundo das letras.
Os dados revelam ainda que nem mesmo a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos, em 2007, melhorou as condições de ensino. A coordenadora pedagógica do Instituto de Qualidade no Ensino (IQE), Maria Helena, comenta que quem percorre as escolas brasileiras, sejam elas públicas ou privadas, facilmente constatará que não há uma única maneira de alfabetizar as crianças. A maioria dos professores ainda opta por métodos que destrincham a língua em códigos – o método fônico é um deles – o que, apesar de ser cientificamente demonstrada a insuficiência para a aprendizagem da língua escrita, obedece a uma abordagem tradicional da alfabetização.
“As práticas que podem de fato ser consideradas construtivistas ainda acontecem timidamente nas escolas brasileiras. Há muitos enganos e incompreensões do que é proporcionar um ambiente em que a construção do conhecimento seja favorecida. Portanto, não de pode pretender que uma condição, que exige tempo e aprofundamento para se estabelecer, seja simplesmente criticada por resultados que não representam sua eficácia, mas apenas referem-se à inadequação de sua compreensão”, avaliou.
Para a especialista a metodologia mais interessante a ser utilizada para iniciar a alfabetização de crianças seria a língua escrita. “Como a mãe não fala por letras ou sílabas para que a criança entenda a língua, a alfabetização tem que partir do que já está escrito e que tenha sentido para a sociedade”, pontuou. Maria Helena acrescentou ainda que a criança precisa ouvir e ler muitas narrativas, relatos, notícias, receitas, enfim, todos os tipos de texto que têm função nas sociedades, para apreender os modos de dizer, muitas vezes específicos de cada área. “Para se escrever um texto é preciso saber como as palavras se formam, mas, mais do que isso, é preciso saber como elas se combinam para transmitir ideias, provocar efeitos. Então, a partir de textos reais, podemos orientar as crianças para que vão descobrindo os princípios alfabéticos”, destacou.
Independentemente da forma de ensino adotada, Maria Helena do IQE aponta que a formação de professores no país é deficiente e que isso influencia diretamente o desempenho dos alunos. E afirma: “O professor também é fruto de uma educação básica ineficiente”. Em sua opinião, a profissão é bastante desvalorizada pelos próprios profissionais e pela sociedade externa. “As universidades públicas têm formado cada vez menos pessoas interessadas em docência e, geralmente, os cursos oferecidos por uma grande parte das particulares são procurados por pessoas que têm poucas condições de enfrentar a concorrência dos vestibulares”, diz.
Além disso, um problema que atinge as escolas públicas é a falta de formalização de um plano de ensino. Na prática, cada professor adota um método em sala de aula, ainda que o Ministério da Educação (MEC) desenvolva manuais para orientá-los. Nas instituições privadas, por outro lado, a metodologia é definida pelo próprio colégio. “Há algumas escolas públicas que construíram seus projetos pedagógicos, não apenas como uma imposição legal, mas como um instrumento orientador das ações. No entanto, essa realidade não é a comum. Atualmente, com as avaliações externas, percebe-se ao menos uma preocupação em adequar os conteúdos às exigências das provas”, critica.
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